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Substância presente em plásticos pode estar associada a câncer de tireoide

Clarice Cudischevitch


Substâncias químicas que interferem no sistema endócrino, entre elas o Bisfenol A, podem estar relacionadas ao câncer de tireoide. O tema é trabalhado pela professora do Laboratório de Fisiologia Endócrina e membro do Programa de Oncobiologia da UFRJ, Andrea Claudia Ferreira. Em estudos preliminares, a pesquisadora e sua equipe obtiveram resultados indicando essa influência.


O grupo estudou o efeito do Bisfenol A (BPA) sobre a proliferação de tireócitos – células não tumorais da tireoide - de ratos. Ao analisar diversas concentrações de BPA e medir a proliferação dessas células, observou que a substância, em baixas concentrações (semelhantes às encontradas no sangue humano), causou um aumento significativo dessas células. O resultado indica que o BPA tem um efeito de, ao menos, aumentar a proliferação celular.


Em doses mais altas, no entanto, o BPA apresentou um efeito inibitório sobre essa viabilidade celular: gerou uma toxicidade que fez as células morrerem. Tal resultado revela a relação não monotônica que os interferentes endócrinos costumam apresentar: o esperado seria que, à medida que aumenta-se a dose, o efeito também aumentaria, mas não é o que acontece no caso dessas substâncias.


“Por conta dessa relação não monotônica, é muito difícil estabelecer uma dose de referência, que seria considerada segura para o indivíduo se expor ao composto”, comenta Andrea. Isso acontece porque esses interferentes endócrinos, muitas vezes, ativam várias vias intracelulares diferentes, dependendo de sua concentração.


O grupo também observou que o BPA causa uma diminuição da expressão do co-transportador de sódio-iodeto (NIS), uma proteína fundamental para a síntese dos hormônios tireoidianos e para a eficácia do tratamento do câncer de tireoide. “Ou seja, o Bisfenol A pode prejudicar a radioiodoterapia, tratamento padrão para esses tumores.”


O câncer de tireoide é o mais prevalente do sistema endócrino. Além disso, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCa), a estimativa é que seja o quinto mais incidente em mulheres, em 2018.


Compostos químicos que afetam hormônios


Os disruptores endócrinos, também conhecidos como desreguladores endócrinos e interferentes endócrinos, são substâncias químicas que interferem na função hormonal do organismo. São pesticidas, metais pesados como mercúrio e chumbo, tributilestanho (substância adicionada à tinta usada em embarcações), substâncias presentes no plástico, como o Bisfenol A e ftalatos, entre outras.


Nos Estados Unidos, 80 mil produtos químicos se encontram em uso no momento e, a cada ano, 1 mil a 2 mil novos compostos são introduzidos no mercado. “De tudo isso, é difícil saber o que faz mal à saúde e o que não faz”, comenta Andrea, ressaltando que tais substâncias também são poluentes ambientais.


Em 1996, cientistas observaram que um dos efeitos da exposição a esses poluentes é a redução da contagem de espermatozoides no sêmen, que vem acontecendo ao longo das décadas. Outras doenças aumentam sua prevalência associadas a uma produção maior de contaminantes ambientais, como autismo, câncer de próstata e câncer de mama.


O Bisfenol A é utilizado no policarbonato, plástico transparente e rígido que compõe recipientes, e na formação da

resina epoxi, que reveste o interior das latas que armazenam alimentos. Em 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a importação e fabricação de mamadeiras contendo BPA, mas outros plásticos continuam sendo amplamente utilizados. A produção global anual do composto é da ordem de 2 milhões de toneladas.


Os disruptores endócrinos podem interferir na produção do hormônio, ou seja, na sua síntese ou liberação; no seu transporte plasmático; na sua eliminação; e na ação hormonal na célula-alvo. “Eles podem ligar-se no receptor da célula como se fosse o hormônio, bloqueando sua ação. As consequências são diversas: diabetes, puberdade precoce, infertilidade, obesidade, déficit de atenção e doenças da tireoide.”


A contaminação pode se dar pela respiração, absorção pela pele e, principalmente, pela ingestão de bebidas e alimentos contaminados. Muitos desses compostos são capazes de atravessar a barreira placentária e de se concentrar no leite materno, atingindo, também, o bebê em gestação ou em amamentação.


A pesquisadora explica, ainda, que vários interferentes endócrinos têm efeitos epigenéticos no DNA e transgeracionais. Ou seja, frequentemente, serão percebidos não no momento da exposição, mas no futuro ou até mesmo nas gerações seguintes.


 

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